Eu e o Rio
Uma história de amor
Foi amor à primeira vista, fiquei vislumbrada com tamanha beleza, cultura, vida pulsante. Não tinha quem tirasse da minha cabeça a vontade e ímpeto de se mudar pra cidade maravilhosa. Era algo muito forte que batia dentro de mim. Eu apenas sabia que era esse o lugar que eu precisava morar. Pai e mãe preocupados com a decisão, já que o rio é “violento demais”, tentando me convencer da facilidade de ficar mais perto, Campinas ou mesmo Ribeirão. Até carro meu pai me prometeu. Mas não, botei na minha cabeça que era o Rio meu próximo destino. Isso aos 17 anos de idade.
Fiz os exames do vestibular e passei. Não podia estar mais contente. Expectativas a mil. Desde o início tive certeza que escolhi o curso e a profissão certa para minha vida. A conexão com o aprendizado musical foi muito forte, me identifiquei de imediato.
A primeira impressão pra uma adolescente de 17 anos, que nunca tinha saído da casa dos pais, foi a de liberdade. Na verdade, a falsa liberdade que achamos que temos nessa idade. Foi uma aventura, faculdade de música na Lapa, morando sozinha na sin city brasileira, aos 17 anos. Boemia carioca me contagiou.
Claro que, não demorou muito, comecei a cair "na real" e ver que nem tudo são flores. A realidade hostil da cidade começou a se mostrar. A criança ingênua do interior de São Paulo começou a perceber que não se pode confiar e se abrir pra qualquer um, nem tudo o que prometem e falam é verdade, as pessoas são interesseiras na maioria das vezes. O lado malandro da cidade começou a se aflorar. Desse choque, passei a viver minha primeira “crise”.
A busca de superação me levou a conhecer o modus operandi que mudou minha vida para sempre: o yoga. Nesse sentido, sou totalmente grata à minha fase dark. Hoje consigo entender o que o Prof. Hermógenes prega “se você está em crise, agradeça”. São dos obstáculos que tiramos as experiências de superação e consequentemente, amadurecimentos.
Vivi falsas amizades, despejos, falsos amores, invejas. Mas acho que o pior de tudo, os domingos solitários. Só quem mora longe da família, sozinha, numa cidade típica “salve-se quem puder”, sabe da tristeza de não ter um almoço na casa da mãe/vó/tia para ir. Por isso eu digo, valorizem suas famílias, esses momentos mágicos domingueiros. Nossa, como eu sinto falta de ter uma Tia Rose aqui, meu pai...
E a busca pela sobrevivência, numa cidade violenta e cara como o Rio? E ainda vivendo de música? Desafiante, muito desafiante. Daí é a hora de nos apoiarmos no nosso propósito, na nossa causa maior. Quando se tem uma causa, não tem obstáculo que nos impeça de sonhar.
Mas o Rio, cidade maravilhosa, também me trouxe amores, amizades, o amor pela música e pela Arte, a valorização da família, e o mais importante: meu amadurecimento pessoal. Eu não seria quem sou hoje se tivesse ficado na minha zona de conforto, com um carrinho, na casa da mamãe e do papai, na minha cultura natal. Não teria conhecido a riquíssima cultura carioca, os tantos gringos que essa cidade nos proporciona, o yoga, o budismo, a ayurveda, a monja Coen, os meus amigos, os meus amores vividos, as trilhas, as praias, a boemia, a Arte, a vida high stakes, ...
Realmente, Rio, temos uma relação amorosa típica, com trancos e barrancos, mas também com muito carinho e aprendizado. O que é uma relação amorosa se não a constante amor x ódio?
Depois de dez anos de relacionamento, esse sorriso aí (da foto) é minha resposta à nossa relação, gratidão por mudar a minha vida para melhor!